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Diretório Litúrgico para Semana Santa | Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos


DOM VICTOR GABRIEL CARDEAL SANTOS
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
CARDEAL-BISPO DI SABINA POGGIO-MIRTETO E ÓSTIA
SECRETÁRIO DE ESTADO DO VATICANO
DECANO DO SACRO COLÉGIO CARDINALÍCIO
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

A todos aqueles que este diretório alcançar, de modo especial,
a todos os irmãos bispos, presbíteros, diáconos e
leigos das pastorais litúrgicas,
saudação no Senhor Jesus.
 
DIRETÓRIO LITÚRGICO PARA A SEMANA SANTA

Com esta V semana da Quaresma toda a Igreja se prepara para vivenciar a liturgia da Semana Santa, conhecida também como Semana Maior. Para tal, esta Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos disponibiliza, por meio desta, o Diretório Litúrgico para a Semana Santa, trazendo tudo a que se refere de matéria litúrgica para bem vivenciar os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do nosso Salvador Jesus Cristo.

1. É tradição da santa Igreja Católica seguir sua tradição invicta e incorrupta pelos séculos, por isso, a Igreja não muda a Semana Santa, mas a segue, tradicionalmente, pela data estipulada pela lua. Portanto, este ano celebramos a semana santa de 02 a 8 de abril, desconsiderando qualquer possibilidade de alteração. 


2. Em nenhum dia da Semana Santa, desde as I Vésperas do Domingo de Ramos até as II Vésperas do Domingo da Páscoa é possível realizar ordenações ou dedicações, dado que nenhum dia desta Semana permite alteração na liturgia.


Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

3. A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que une num todo o triunfo real de Cristo e o anúncio da paixão. Na celebração e na catequese deste dia sejam postos em evidência estes dois aspectos do mistério pascal.

4. Desde a antiguidade se comemora a entrada do Senhor em Jerusalém com a procissão solene, com a qual os cristãos celebram este evento, imitando as aclamações e os gestos das crianças hebreias, que foram ao encontro do Senhor com o canto do Hosana. Os pastores esforcem-se por que esta procissão, em honra de Cristo Rei, seja preparada e celebrada de modo frutuoso para a vida espiritual dos fiéis. 

5. Celebrada a qualquer hora do domingo ou após às 15h do sábado, a liturgia consta de dois momentos: procissão e missa. A procissão pode ser feita na rua, pode ser feita a entrada solene ou a entrada simples. A procissão e a entrada solene fazem-se do mesmo modo, como disposto em nosso Semanário Litúrgico e no Missal Romano

6. Onde se fizer a entrada simples, não se lê a entrada em Jerusalém e se diz o Ato Penitencial.

7. Para essa missa não se esqueça de preparar os Ramos para o povo, ornamentar o altar com Ramos, de preparar um lugar para o primeiro Evangelho, seja na rua ou na porta da Igreja, e ainda, separar os leitores do Evangelho da Paixão. 

8. Neste dia pode-se omitir as leituras e ler apenas o Evangelho, mesmo que na forma breve, a juízo do presidente. Para o bem espiritual dos fiéis, é oportuno que a história da Paixão seja lida integralmente sem omitir as leituras que a precedem.

9. A história da Paixão reveste particular solenidade. É aconselhável que seja cantada ou lida segundo o modo tradicional, isto é, por três pessoas que representam a parte de Cristo, do cronista e do povo. Passio é cantada ou lida pelos diáconos ou sacerdotes ou, na falta deles, pelos leitores; neste caso, a parte de Cristo deve ser reservada ao sacerdote. A proclamação da paixão é feita sem os portadores de castiçais, sem incenso, sem a saudação ao povo e sem o toque no livro; só os diáconos pedem a bênção do sacerdote, como noutras vezes antes do Evangelho

Segunda, Terça e Quarta-Feira Santas

10. Estes dias, de celebrações de rico simbolismo, devem ser celebrados com fortes momentos de meditação sobre os acontecimentos ligados aos últimos dias antes da Páscoa do Senhor.

11. Nestes dias são recomendadas diversas formas de piedade popular: procissões, via-sacras, terços e outros modos de viver este momento. A cor litúrgica para essas atividades é o roxo, e para a via-sacra pode-se utilizar o vermelho.

12. Em qualquer dia convém recitar as horas canônicas.

13. Neste ano, a Congregação para o Culto Divino disponibilizará livretos de via-sacra, de celebração penitencial, do Ofício das Trevas, da Procissão do Encontro e demais eventos propícios de serem vivenciados durante este tempo santo.

Missa do Crisma

14. A bênção do óleo dos enfermos e dos óleos dos catecúmenos e a consagração do Crisma são feitas normalmente pelo bispo na Quinta-Feira da Semana Santa, na Missa própria, que deve ser celebrada pela manhã.

15. Se for difícil reunir o clero e o povo neste dia com o bispo, pode-se antecipar a bênção, sempre, porém nas proximidades da Páscoa e com Missa própria.

16. Não há mais de uma Missa do Crisma por diocese ou arquidiocese. Ela não é celebrada nas dioceses titulares.

17. Esta Missa, que o bispo concelebra com seu presbitério, seja como um sinal de comunhão dos presbíteros com o seu Bispo. Convém, portanto, que todos os presbíteros, tanto quanto possível, participem dela, e nela comunguem sob as duas espécies. 

18. Na homilia, o Bispo exorta os seus presbíteros a serem fiéis aos seus cargos e convida-os a renovarem publicamente as promessas sacerdotais. 

19. Nessa missa, independente de ser celebrada na Quinta-Feira Santa ou antesusa-se a cor litúrgica branca ou festiva e ornamenta-se o altar com flores.

20. Prepare-se, antes da missa, as ânforas para os óleos e para o Crisma.

O Tríduo Pascal

21. A Igreja celebra todos os anos os grandes mistérios da redenção humana, desde a missa vespertina da Quinta-feira “In Cena Domini” até às vésperas do domingo da ressurreição. Este espaço de tempo é justamente chamado o “tríduo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado" e também tríduo pascal, porque com a sua celebração se torna presente e se cumpre o mistério da Páscoa, isto é, a passagem do Senhor deste mundo ao Pai. Com a celebração deste mistério a Igreja, por meio dos sinais litúrgicos e sacramentais, associa-se em íntima comunhão com Cristo seu Esposo.

22. É sagrado o jejum pascal destes dois primeiros dias do tríduo, em que, segundo a tradição primitiva, a Igreja jejua “porque o Esposo lhe é tirado”. Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, em toda a parte o jejum deve ser observado juntamente com a abstinência, e aconselha-se prolongá-lo também no Sábado Santo, de modo que a Igreja, com o espírito aberto e elevado, possa chegar à alegria do Domingo da Ressurreição.

23. O canto do povo, dos ministros e do sacerdote celebrante reveste particular importância na celebração da Semana Santa e especialmente do tríduo pascal, porque está mais de acordo com a solenidade destes dias e também porque os textos obtêm maior força quando são cantados.

24. Quando em algum lugar é insuficiente o número dos participantes, dos ajudantes e dos cantores, as celebrações do tríduo pascal sejam celebradas de uma forma simples ou busquem reunir-se em outra igreja maior.

Missa Vespertina na Ceia do Senhor

25. A Missa vespertina da Ceia do Senhor poderá ser celebrada desde à noite da quarta-feira santa, e durante toda a quinta-feira santa.

26. Segundo antiga tradição da Igreja, proíbe-se neste dia qualquer Missa sem povo (na realidade minecraft, deve haver ao menos um concelebrante ou assistente).

27. Para essa missa observe-se que o sacrário deve ter sido esvaziado e sua luz apagada antes ou após a missa. Se, de algum modo, for possível demonstrar o vazio do sacrário, seja feito. 

28. Do mesmo modo, prepare-se antes da missa e fora do presbitério ou, se possível, da igreja – mas ligado a ela – o altar da reposição: um lugar, ornamentado, onde ficará a reserva Eucarística numa urna ou sacrário, para a adoração dos fiéis. Seja ela ornada de modo conveniente, para que possa facilitar a oração e a meditação: recomenda-se o respeito daquela sobriedade que convém à liturgia destes dias, evitando ou removendo qualquer abuso contrário.

29. Os paramentos são brancos ou festivos e igreja pode ser ornada com flores.

30. Nessa missa recomenda-se o uso de incenso. 

31. No Hino de Louvor tocam-se os sinos e campainhas. Depois disso eles ficarão silenciados (retirados, se possível), até serem tocados no Glória da Vigília Pascal. Não entoa-se o Aleluia nesta Missa.

32. O rito de lava-pés é opcional

33. Para a transladação do Santíssimo não se retira a casula e nem se usa ostensório. Se coloca o véu umeral sobre a casula e se leva o Senhor envolto pelo véu umeral na âmbula.

34. Ao fim da missa retire-se da igreja todas as flores, velas, toalhas, matos, enfim, todo e qualquer tipo de enfeite que não faça parte da estrutura. Se as imagens não foram veladas, vele-se a cruz, ou retire-a, se for possível. 

Celebração da Paixão do Senhor

35. Neste dia, em que “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado”, a Igreja, com a meditação da paixão do seu Senhor e Esposo e adorando a cruz, comemora o seu nascimento do lado de Cristo que repousa na cruz, e intercede pela salvação do mundo todo.

36. A celebração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo deve somente e unicamente ser celebrada a Sexta-Feira Santa, mas, ao longo de todo o dia.
    No entanto, proíbe-se a celebração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo às 15h, visto que é o horário em que a Igreja universal celebra a morte do Senhor no madeiro da cruz. 

37. Na Sexta-Feira Santa e Sábado Santo, segundo antiquíssima tradição, a Igreja não celebra os sacramentos.

38. Respeite-se religiosa e fielmente a estrutura da celebração da Paixão do Senhor (Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Sagrada Comunhão). A ninguém é lícito introduzir lhe mudanças de próprio arbítrio.

39. O altar esteja totalmente despojado: sem cruz, castiçais ou toalha.

40. O sacerdote e o diácono, de paramentos vermelhos como para a Missa, isso é, o sacerdote de casula e o diácono de dalmática. Os paramentos sejam simples. 

41. Não pode-se usar capa de asperge, nem paramentos negros.

42. Neste ofício os bispos lembrem-se que: 
a) Não se usa dalmática sob a casula; 
b) Não se usa anel; 
c) A Mitra deve ser completamente branca (a do papa com detalhes dourados); 
d) Não se usa báculo ou férula;
e) Se for arcebispo ou gozar do uso do pálio, não usa-o.
    Recomendamos aos Bispos, aos cerimoniários e aos presbíteros a observação dos núm. 312-331 do Cerimonial dos Bispos nesta celebração.

43. O principal desta celebração é a leitura da Palavra de Deus, pois o povo se reúne para acompanhar o mistério da Morte de seu Divino Mestre. Por isso, não se corte ou retire leituras das Escrituras, integra ou parcialmente.

44. A comunhão não retorne nem para o sacrário e nem para o altar da reposição. 

Sábado Santo

45. Durante o Sábado santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e sua morte, sua descida à mansão dos mortos e esperando na oração e no jejum sua ressurreição.

46. Tanto depois da Celebração da Paixão, como no Sábado Santo pela manhã e tarde, pode-se promover celebrações com o Senhor Morto, como o Sermão das 7 palavras, procissões, Via-Sacra, ou outros modos de piedade popular, tendo em vista que não existe liturgia. Por isso, durante o dia é absolutamente proibido qualquer celebração litúrgica.

Domingo da Páscoa – Na noite Santa: Vigília Pascal

47. Segundo antiquíssima tradição, esta noite é ''uma vigília em honra do Senhor'' (Ex 12,42). Assim os fiéis, segundo a advertência do Evangelho (Lc 12,35ss), tendo nas mãos lâmpadas acesas, sejam como os que esperam o Senhor, para que ao voltar os encontre vigilantes e os faça sentar à sua mesa. Mesmo celebrada antes da meia-noite, a Missa da vigília é a verdadeira Missa do domingo da Páscoa. 

48. A vigília pascal obrigatoriamente deve ser celebrada durante à noite do sábado santo e somente após às 16h, horário das vésperas e início da noite. Estimule-se, porém, celebrações da Vigília Pascal depois do sol já ter se posto, como, de fato, cabe a essência da mesma. De qualquer modo, ela é celebrada na Noite Santa. Salva-se a necessidade e autorização do ordinário local, para que possa ser feita após às 13h.

49. Onde não foi possível celebrar a Vigília Pascal, proceda-se em uma das noites da Oitava Pascal a celebração da Luz e a Missa própria do dia da Oitava, para que se possa ter o Círio Pascal. Onde o Círio Pascal não foi abençoado, ele não seja disposto na igreja.

50. O sacerdote e os ministros vestem paramentos brancos, como para a Missa ou cor festiva.

51. Preparem-se velas para todos os que participam da vigília.

52. Prepare-se, para essa missa, o círio pascal e seu suporte, a fogueira, as flores e a pia batismal, além de todo o restante para uma solenidade.

53. Na medida em que for possível, prepare-se fora da igreja, em lugar conveniente, o braseiro para a bênção do fogo novo, cuja chama deve ser tal que dissipe as trevas e ilumine a noite.

54. A procissão com que o povo entra na igreja deve ser iluminada unicamente pela luz do círio pascal. Assim como os filhos de Israel eram guiados de noite pela coluna de fogo, assim também os cristãos, por sua vez, seguem a Cristo ressuscitado.

55. A luz do círio pascal passará, gradualmente, às velas que os fiéis têm em suas mãos, permanecendo ainda apagadas as lâmpadas elétricas.

56.  Dispomos no Semanário 3 leituras, se for o caso podem-se fazer apenas duas ou, usando o Missal Romano, acrescentar-se mais leituras do antigo testamento. A terceira leitura (Êxodo 14) e seu salmo nunca podem ser excluídas.

57. No final das leituras do Antigo Testamento canta-se o Glória a Deus, tocam-se os sinos segundo os usos locais, pronuncia-se a oração e passa-se às leituras do Novo Testamento. Lê-se a exortação do apóstolo sobre o Batismo, entendido como inserção no mistério pascal de Cristo.

58. Depois, todos se levantam: o sacerdote entoa por três vezes o Aleluia, elevando gradualmente a voz, e o povo repete-o. Por fim, com o Evangelho é anunciada a ressurreição do Senhor, como ápice de toda a liturgia da Palavra. Não se deve omitir a homilia, ainda que seja breve.

59. A terceira parte da vigília é constituída pela liturgia batismal. A Páscoa de Cristo e nossa é agora celebrada no sacramento. Onde não haja a cerimônia do Batismo nem se deva benzer a água batismal, a memória do Batismo é feita na bênção da água que depois servirá para aspergir o povo.

60. Em seguida tem lugar a renovação das promessas batismais, introduzida com uma palavra do celebrante. Os fiéis, de pé e com as velas acesas na mão, respondem às interrogações.

61. Depois eles são aspergidos com a água: desse modo, gestos e palavras recordam-lhes o Batismo recebido. 

62. A celebração da Eucaristia forma a quarta parte da vigília e o seu ápice, sendo de modo pleno o sacramento da Páscoa, ou seja, memorial do sacrifício da cruz e presença de Cristo ressuscitado, consumação da iniciação cristã e antegozo da Páscoa eterna.

Domingo da Páscoa – Missa do Dia

63. As comunidades que na noite do Sábado para o Domingo da Páscoa celebraram a Vigília Pascal ou aquelas que não celebrarão a Vigília e não usarão Círio Pascal, podem no dia celebrar a segunda Missa da Páscoa normalmente. Estes 8 dias que decorrem da Noite Santa são celebradas com a mesma exultação do dia da Páscoa do Senhor. E, por 50 dias, a Igreja proclamará: O Ressuscitado vive entre nós!

Conclusão

Jesus Cristo, nosso Senhor, é o Cordeiro de Deus, que imolado já não morre e morto vive eternamente. Por isso, esperamos que as celebrações pascais em nossa realidade virtual sejam convidativas aos seus participantes para que busquem vivenciar a Páscoa do Senhor na realidades, pelos sagrados rituais e pelo espírito renovado. Assim, também nós que celebraremos, possamos procurar renovar o nosso ser no mistério do Cristo morto e ressuscitado, razão de nossa esperança e nossa vida.

Confiamo-nos a Virgem Maria, que é Mãe das Dores e Mãe da Alegria, Senhora que acompanhou seu Cristo nos seus sagrados mistérios, para que ela nos ensine a acompanhar os passos de Jesus a fim de alcançarmos com Ele a vitória sobre o pecado e a morte.

Dado e passado em Roma, na sede da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, no vigésimo sétimo dia do mês de março de 2023.

✠ Victor Gabriel Cardeal Santos
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos