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Carta Pastoral "Marie Virginis in Intelectual Exercitatio et Spiritualis" | Na qual contempla a figura de Maria no meio Intelectual e Espiritual | Congregação para a Educação Católica

 

C O N G R E G A T I O   D E    I N S T I T U T I O N E   C A T H O L I C A

MARIAE VIRGINIS
IN INTELLECTUAL EXERCITATIO
ET SPIRITUALIS

DOM THIAGO MARQUES
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA 
TITULI DE GALTELL
BISPO AUXILIAR DE SÃO JOÃO DEL CREEPER 
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA 

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INTRODUÇÃO

1. A Segunda Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em 1985 para « a celebração, a verificação e a promoção do Concílio Vaticano II », [1] afirmou a necessidade de « dedicar uma atenção especial às quatro Constituições maiores do Concílio » [2] e de realizar uma « programação que tenha como objectivo um novo, mais amplo e mais profundo conhecimento e aceitação do Concílio ». [3]

Por sua vez o Sumo Pontífice João Paulo II afirmou que o Ano Mariano deve « promover uma nova e aprofundada leitura do que o Concílio disse sobre a bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja ».[4]

A Congregação para a Educação Católica é particularmente sensível a esta dupla indicação magisterial. Com a presente Carta circular dirigida às faculdades teológicas, aos seminários e aos outros centros de estudos eclesiásticos pretende apresentar algumas reflexões sobre a bem-aventurada Virgem e sobretudo sublinhar que o conhecimento, a investigação e a piedade em relação a Maria de Nazaré não podem circunscrever-se aos limites cronológicos do Ano Mariano, mas devem constituir uma tarefa permanente: permanentes, com efeito, são o valor exemplar e a missão da Virgem. Com efeito, a Mãe do Senhor é um « dado da Revelação divina » e constitui uma « presença materna » sempre operante na vida da Igreja.[5]

A VIRGEM MARIA:
UM DADO ESSENCIAL DA FÉ E DA VIDA DA IGREJA

A RIQUEZA DA DOUTRINA MARIOLÓGICA

2. A história do dogma e da teologia testemunham a fé e a atenção incessante da Igreja em relação à Virgem Maria e à sua missão na história da salvação. Tal atenção manifesta-se já em alguns escritos do novo testamento e em não poucas páginas dos autores da idade subapostólica. Os primeiros símbolos da fé e, sucessivamente, as fórmulas dogmáticas dos Concílios de Constantinopla (a. 381), de Éfeso (a. 431) e de Calcedónia (a. 451) testemunham o progressivo aprofundamento do mistério de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e paralelamente a progressiva descoberta do papel de Maria no mistério da Encarnação; uma descoberta que conduziu à definição dogmática da maternidade divina e virginal de Maria.

A atenção da Igreja em relação a Maria de Nazaré continuou em todos os séculos, com muitas declarações. Recordamos apenas as mais recentes, sem com isto querer minimizar o florescimento que a reflexão mariológica conheceu noutras épocas históricas.

3. Pelo seu valor doutrinal não podemos deixar de recordar a Bula dogmática Ineffabilis Deus (8 de Dezembro de 1854) de Pio IX, a Constituição Munificentissimus Deus (1 de Novembro de 1950) de Pio XII e a Constituição dogmática Lumen gentium (21 de Novembro de 1964), cujo capítulo VIII constitui a síntese mais ampla e autorizada da doutrina católica sobre a Mãe do Senhor até agora realizada por um concílio ecuménico. São também de recordar, pelo seu significado teológico e pastoral, outros documentos como a Professio fidei (30 de Junho de 1968) e as Exortações apostólicas Signum magnum (13 de Maio de 1967) e Marialis cultus (2 de Fevereiro de 1974) de Paulo VI, e bem assim a Encíclica Redemptoris Mater (25 de Março de 1987) de João Paulo II.

4. É, além disso, justo recordar a acção desenvolvida por alguns « movimentos » que, tendo suscitado em vários modos e sob pontos de vista diversos um grande interesse pela bem-aventurada Virgem, tiveram uma influência considerável na confecção da Constituição Lumen gentium: o movimento bíblico, que sublinhou a importância primária da Sagrada Escritura para uma apresentação do papel da Mãe do Senhor, conforme à Palavra revelada; o movimento patrístico, que colocando a mariologia em contacto com o pensamento dos Padres da Igreja, lhe permitiu aprofundar as suas raízes na Tradição; o movimento eclesiológico, que contribuiu largamente para a reconsideração e aprofundamento da relação entre Maria e a Igreja; o movimento missionário, que descobriu progressivamente a importância de Maria de Nazaré, a primeira evangelizada (cf. Lc. 1, 26-38) e a primeira evangelizadora (cf. Lc. 1, 39-45), como fonte de inspiração para o seu empenhamento na difusão da Boa Nova; o movimento litúrgico, que instituindo um fecundo e rigoroso confronto entre as várias liturgias, pode documentar como os ritos da Igreja atestem uma veneração cordial em relação à « gloriosa e sempre Virgem Maria, Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo »; [6] o movimento ecuménico, que pediu um esforço para compreender com exactidão a figura da Virgem no âmbito das fontes da Revelação e para determinar o fundamento teológico da piedade mariana.

O ENSINO MARIOLÓGICO DO VATICANO II

5. A importância do capítulo VIII da Lumen gentium consiste no valor da sua síntese doutrinal e na impostação do tratado da doutrina referente à bem-aventurada Virgem, enquadrada no âmbito do mistério de Cristo e da Igreja. Desde modo o Concílio:

— vinculou-se à tradição patrística, que privilegia a história de salvação como contexto próprio de todos os tratados teológicos;

— pôs em evidência que a Mãe do Senhor não é figura marginal no âmbito da fé e no panorama da teologia pois ela, mediante a sua íntima participação na história da salvação, « reúne em si em certa maneira e reflecte os dados máximos da fé »; [7]

— compendiou numa visão unitária diferentes posições sobre o modo de tratar o tema mariológico.

a) Na perspectiva de Cristo:

6. Segundo a doutrina do Concílio a própria relação de Maria com Deus Pai é determinada na perspectiva de Cristo. Com efeito Deus, « quando veio a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho nascido duma mulher ... para que recebêssemos a adopção de filhos » (Gal. 4, 4-5) [8] Maria, portanto, que por condição era a « Serva do Senhor » (cf. Lc. 1, 38.48), tendo acolhido « no coração e no corpo o Verbo de Deus » e levado « a Vida ao mundo », torna-se por graça « Mãe de Deus ».[9] Em vista desta singular missão, Deus Pai preservou-a do pecado original, encheu-a da abundância dos dons celestes e, nos seus sapientes desígnios, « quis ... que a aceitação da mãe predestinada precedesse a Encarnação ».[10]

7. O Concílio, ilustrando a participação da Virgem na história da salvação, expôs sobretudo as relações múltiplas que existem entre Maria e Cristo:

— como « fruto mais excelente da redenção, [11] tendo sido « redimida dum modo tão sublime em vista dos méritos de seu Filho »; [12] por isso os Padres da Igreja, a Liturgia e o Magistério não hesitaram em chamar a Virgem « filha do seu Filho » [13] na ordem da graça;

— de mãe que, acolhendo com fé o anúncio do Anjo, concebeu no seu seio virginal, pela acção do Espírito e sem intervenção de homem, o Filho de Deus segundo a natureza humana; deu à luz, alimentou-o, guardou-o e educou-o; [14]

— de serva fiel, que « se consagrou totalmente a si mesma ... à pessoa e à obra do seu Filho, subordinada a Ele e com Ele »; [15]

— de associada ao Redentor: « com o conceber Cristo, gerá-Lo, nutri-Lo, apresentá-Lo ao Pai no templo, sofrer com o seu Filho morrendo na cruz, ela colaborou dum modo muito especial na obra do Salvador, com a obediência, a fé, a esperança e a caridade ardente »; [16]

— de discípula que, durante a pregação de Cristo, « recolheu as palavras, com as quais o Filho, exaltando o Reino acima das relações e dos vínculos da carne e do sangue, proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus (cf. Mc. 3, 35; Lc. 11, 27-28), como ela fielmente fazia (cf. Lc. 2, 19 e 51) ».[17]

8. Na perspectiva cristológica se devem ler também as relações entre o Espírito Santo e Maria; ela « como plasmada e constituída nova criatura » [18] pelo Espírito e tornada dum modo particular seu templo,[19] pela potência do mesmo Espírito (cf. Lc. 1,35), concebeu no seu seio virginal e deu ao mundo Jesus Cristo.[20] No episódio da Visitação, derramam-se, por meio dela, os dons do Messias Salvador: a efusão do Espírito sobre Isabel, a alegria do futuro Precursor (cf. Lc. 1, 41).

Cheia de fé na Promessa do Filho (cf. Lc. 24, 49), a Virgem constitui uma presença orante no meio da comunidade dos discípulos: perseverando com eles na concórdia e na súplica (cf. Act. 1, 14), implora « com as suas orações o dom do Espírito, que sobre ela tinha já descido na anunciação ».[21]

b) Na perspectiva da Igreja

Em vista de Cristo, e portanto também na perspectiva da Igreja, desde toda a eternidade Deus quis e predestinou a Virgem. Maria de Nazaré com efeito:

— é « reconhecida como membro supereminente e singularíssimo da Igreja », [22] por causa dos dons da graça de que é adornada e pelo lugar que ocupa no Corpo Místico;

— é mãe da Igreja, pois que ela é « Mãe d'Aquele, que, desde o primeiro instante da encarnação no seu seio virginal, uniu a si como Cabeça o seu Corpo Místico que é a Igreja »; [23]

— pela sua condição de virgem esposa mãe é figura da Igreja, a qual é também virgem pela integridade da fé, esposa pela sua união com Cristo, mãe pela geração de inumeráveis filhos; [24]

— pelas suas virtudes é modelo da Igreja, que nela se inspira no exercício da fé, da esperança, da caridade [25] e na actividade apostólica; [26]

— com a sua multíplice intercessão continua a obter para a Igreja os dons da salvação eterna. Na sua caridade materna cuida dos irmãos do seu Filho ainda peregrinos. Por isso a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira;[27]

— assunta ao céu em corpo e alma, é a « imagem » escatológica e a « primícia » da Igreja, [28] que nela « contempla com alegria ... o que ela, toda deseja e espera ser » [29] e nela encontra um « sinal de segura esperança e de consolação ».[30]

DESENVOLVIMENTO MARIOLÓGICO DO POST-CONCÍLIO

10. Nos anos imediatamente a seguir ao Concílio o trabalho realizado pela Sé Apostólica, por muitas Conferências Episcopais e por insignes estudiosos, ilustrando o ensino do Concílio e respondendo aos problemas que pouco a pouco iam aparecendo, deu nova actualidade e vigor à reflexão sobre a Mãe do Senhor.

Um contributo particular para este despertar mariológico foi dado pela Exortação apostólica «Marialis cultus» e pela Encíclica « Redemptoris Mater ».

Não é aqui o lugar para apresentar uma resenha particularizada dos vários sectores da reflexão post-conciliar sobre Maria. Parece útil todavia ilustrar alguns a título de exemplo e como estímulo para investigações ulteriores.

11. A exegese bíblica abriu novas fronteiras à mariologia, dedicando cada vez mais espaço à literatura intertestamentária. Não poucos textos do Antigo Testamento e, sobretudo, as páginas neo-testamentárias de Lucas e de Mateus sobre a infância de Jesus e as perícopas joaneias constituíram objecto dum estudo contínuo e aprofundado que, mediante os resultados conseguidos, reforçou a base escriturística da mariologia e enriqueceu-a consideravelmente do ponto de vista temático.

12. No campo da teologia dogmática, a mariologia contribuiu, no debate post-conciliar, para uma ilustração mais idónea dos dogmas: chamada em causa nas discussões sobre o pecado original (dogma da Imaculada Conceição), sobre a encarnação do Verbo (dogma da conceição virginal de Cristo, dogma da maternidade divina), sobre a graça e a liberdade (doutrina da cooperação de Maria na obra da salvação), sobre o destino último do homem (dogma da Assunção), ela teve que estudar criticamente as circunstâncias históricas nas quais aqueles dogmas foram definidos, a linguagem em que foram formulados, compreendê-los à luz das aquisições da exegese bíblica, dum conhecimento mais rigoroso da Tradição, das interpelações das ciências humanas e rejeitar enfim as contestações sem fundamento.

13. O interesse da mariologia pelos problemas conexos com o culto da bem-aventurada Virgem foi muito vivo: ele manifestou-se na investigação das suas raízes históricas,"[31] no estudo das motivações doutrinais e da atenção à sua inserção orgânica no « único culto cristão »,[32] na avaliação das suas expressões litúrgicas e das múltiplas manifestações da piedade popular, e bem assim no aprofundamento das suas relações mútuas.

14. Também no campo ecuménico a mariologia foi objecto de particular consideração. Relativamente às Igrejas do Oriente cristão, João Paulo II sublinhou « quanto a Igreja católica, a Igreja ortodoxa e as antigas Igrejas orientais se sintam profundamente unidas pelo amor e louvor à Theotokos »; [33] por seu lado Dimitrios I, Patriarca ecuménico, sublinhou como as « duas Igrejas irmãs mantiveram através dos séculos inextinguível a chama da devoção à venerabilíssima pessoa da Santíssima Mãe de Deus » [34] e fez votos de que « o tema da mariologia ocupe um lugar central no diálogo teológico entre as nossas Igrejas ... para o restabelecimento pleno da nossa unidade eclesial ».[35]

No que diz respeito às Igrejas da Reforma, a época post-conciliar é caracterizada pelo diálogo e pelo esforço duma compreensão recíproca. Isto permitiu a superação da desconfiança secular, um melhor conhecimento das respectivas posições doutrinais e a realização de iniciativas comuns de investigação. Assim, pelo menos em certos casos, se puderam compreender, por um lado, os perigos que se inserem no « obscuramento » da figura de Maria na vida eclesial e, por outro, a necessidade de ater-se aos dados da Revelação.[36]

Nestes anos, no âmbito do discurso interreligioso, o interesse da mariologia dirigiu-se para o Hebraísmo do qual provém a « Filha de Sido ». Além disso dirigiu-se para o Islamismo, no qual Maria é venerada como santa Mãe de Cristo.

15. A mariologia post-conciliar dedicou uma atenção renovada à antropologia. Os Sumos Pontífices apresentaram repetidamente Maria de Nazaré como a expressão suprema da liberdade humana na cooperação do homem com Deus, que « no evento sublime da encarnação do Filho, se confiou ao ministério, livre e activo de uma mulher ».[37]

Da convergência entre os dados da fé e os dados das ciências antropológicas, no momento em que estas dirigiram a sua atenção para Maria de Nazaré, compreendeu-se mais claramente que a Virgem é por um lado a mais alta realização histórica do Evangelho [38] e a mulher que, pelo domínio de si, pelo sentido de responsabilidade, a abertura aos outros e o espírito de serviço, pela fortaleza e pelo amor, se realizou mais completamente no plano humano.

Foi advertida, por exemplo, a necessidade:

— de « aproximar » a figura da Virgem dos homens do nosso tempo, salientando a sua "imagem histórica" de humilde mulher hebreia;

— de mostrar os valores humanos de Maria, permanentes e universais, de modo que o discurso sobre ela ilumine o discurso sobre o homem.

Neste âmbito o tema « Maria e a mulher » foi muitas vezes tratado; mas ele, susceptível de muitos modos de ser enquadrado, está longe de se poder dizer esgotado e aguarda ulteriores desenvolvimentos.

16. Na mariologia post-conciliar apareceram temas novos ou tratados sob um novo ângulo: a relação entre o Espírito Santo e Maria; o problema da inculturação da doutrina sobre a Virgem e das expressões da piedade mariana; o valor da via pulchritudinis para avançar no conhecimento de Maria e a capacidade da Virgem de suscitar as mais altas expressões no campo da literatura e da arte; a descoberta do significado de Maria em relação a algumas urgências pastorais do nosso tempo (a cultura da vida, a opção pelos pobres, o anúncio da Palavra...); a revalorização da « dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo ».[39]

A ENCÍCLICA « REDEMPTORIS MATER » DE JOÃO PAULO II

17. Na sequência da Lumen gentium e dos documentos magisteriais do post-Concílio coloca-se a Encíclica Redemptoris Mater de João Paulo II, a qual confirma a impostação cristológica e eclesiológica da mariologia, necessária para que ela revele toda a gama dos seus conteúdos.

Depois de ter aprofundado, através duma prolongada meditação sobre a exclamação de Isabel: « Bem-aventurada aquela que acreditou » (Lc. 1, 45), os múltiplos aspectos da « fé heróica » da Virgem, que ele considera « quase uma chave que nos manifesta a realidade íntima de Maria », [40] o Santo Padre ilustra a « presença materna » da Virgem no caminho da fé, segundo duas linhas de pensamento, uma teológica, a outra pastoral e espiritual:

— a Virgem, que esteve activamente presente na vida da Igreja no seu início (o mistério da Encarnação), na sua constituição (o mistério de Caná e da Cruz) e na sua manifestação (o mistério do Pentecostes) — é uma "presença operante" ao longo de toda a sua história, ou melhor, está no «centro da Igreja a caminho », [41] em relação à qual desenvolve uma função múltipla: de cooperação no nascimento dos fiéis para a vida da graça, de exemplaridade no seguimento de Cristo, de «mediação materna »; [42]

— o gesto mediante o qual Cristo confiou o Discípulo à Mãe e a Mãe ao Discípulo (cf. Jo. 19, 25-27) determinou uma relação estreitíssima entre Maria e a Igreja. Por vontade do Senhor, uma «nota mariana » assinala a fisionomia da Igreja, o seu caminho, a sua activitade pastoral; e na vida espiritual de todo o discípulo — como sublinha o Santo Padre está inserida uma "dimensão mariana".[43]

No seu conjunto a Redemptoris Mater pode se considerada a Encíclica da "presença materna e operante" de Maria na vida da Igreja: [44] no seu caminho de fé, no culto que ela presta ao seu Senhor, na sua obra de evangelização, na sua progressiva configuração a Cristo, no empenhamento ecuménico.

O CONTRIBUTO DA MARIOLOGIA PARA A INVESTIGAÇÃO TEOLÓGICA

18. A história da teologia atesta que o conhecimento do mistério da Virgem contribui para um conhecimento mais profundo do mistério de Cristo, da Igreja e da vocação do homem.[45] Por outro lado, o vinculo estreito da bem-aventurada Virgem com Cristo, com a Igreja e com a humanidade faz com que a verdade acerca de Cristo, da Igreja e do homem ilumine a verdade concernente a Maria de Nazaré.

19. Em Maria com efeito « tudo é relativo a Cristo ».[46] Dai deriva que « só no mistério de Cristo se clarifique plenamente o seu mistério »,[47] e que, quanto mais a Igreja aprofunda o mistério de Cristo tanto mais compreenda a singular dignidade da Mãe do Senhor e o seu papel na história da salvação. Mas, em certa medida, é verdade também o contrário: com efeito a Igreja, através de Maria, « testemunha excepcional do mistério de Cristo »,[48] aprofundou o mistério da kenosis do « Filho de Deus » (Lc. 3, 38; cf. Fil. 2, 5-8) tornado em Maria « Filho de Adão » (Lc. 3, 38), conheceu com maior clareza as raízes históricas do « Filho de Davide » (cf. Lc. 1, 32) a sua inserção no povo Hebraico, a sua pertença ao grupo dos « pobres do Senhor ».

20. Além disso em Maria tudo – os privilégios, a missão, o destino – é também intrinsecamente relativo ao mistério da Igreja. Daí deriva que na medida em que se aprofunda o mistério da Igreja resplandece mais nitidamente o mistério de Maria. E, por sua vez, a Igreja, contemplando Maria, conhece as próprias origens, a sua natureza íntima, a sua missão de graça, o destino de glória, o caminho de fé que deve percorrer.[49]

21. Finalmente, em Maria, tudo é relativo ao homem, de todos os lugares e de todos os tempos. Ela é um valor universal e permanente. « Nossa verdadeira irmã » [50] e « unida na raça de Adão com todos os homens necessitados de salvação »,[51] Maria não ilude as expectativas do homem contemporâneo. Em virtude da sua condição de « perfeita sequaz de Cristo » [52] e de mulher que se realizou completamente como pessoa, ela é uma fonte perene de inspirações fecundas de vida.

Para os discípulos do Senhor a Virgem é o grande símbolo do homem que alcança as aspirações mais íntimas da sua inteligência, da sua vontade e do seu coração, abrindo-se por Cristo e no Espírito à transcendência de Deus numa filial dedicação de amor e consolidando-se na história mediante um serviço operante aos irmãos.

Para além disso « ao homem contemporâneo escrevia Paulo VI frequentemente atormentado entre a angústia e a esperança, prostrado pelo sentido dos seus limites e assaltado por aspirações.

Dado e passado em Roma, na sede desta Congregação, aos trinta e um dias do mês de maio do ano da graça do Senhor de dois mil e vinte e quatro, no encerramento do mês Mariano.


Dom Thiago Marques 
Prefeito da Cong. Para Educação Católica